terça-feira, 22 de dezembro de 2009

As pessoas têm pressa

Lembro do dia que Lia, minha cadelinha, foi embora daqui. As pessoas e coisas vão embora muito rápido. E não quer dizer que elas tenham dito adeus, deixado bilhetes ou assumido compromissos com a partida. Elas simplesmente vão. Como aquele cidadão que desaparece nos corredores do metrô, na multidão, na curva da esquina do supermercado. Elas se levantam, caminham e desaparecem. Foi assim com aquele cãozinho de sua infância. Ele desapareceu. Foi assim com aquele colega que mudou de escola de repente. Foi assim com aquele meio irmão que escafedeu-se junto com a separação de seus pais. Será assim. Sempre. É que as pessoas são do mundo. Elas tem um par de pernas - ou de asas - e uma mente fresca e desperta justamente para tal atividade: partir. E quando nos perguntamos sobre saudade, ah, a saudade sempre existiu, sempre existe, sempre existirá. Em qualquer dos estágios dos encontros. Saudade daquilo que não veio, daquilo que está por vir, daquilo que já foi. No fundo, o saldo é positivo. As pessoas que são felizes do nosso lado, devem ser felizes enquanto quiserem e enquanto ali lhes parecer confortável. Hoje, enquanto eu me concentro pra decifrar sabores de creme dental e identificar o melhor canto junto aos lençóis; lembrei de tudo isso que já me veio e que desapareceu. E não fiquei triste. Surpreendentemente. Eu aprendi que eu preciso ser confortável para aqueles ou aquilo que se propuser a ficar um tempo sob o meu olhar. E aproveitar esses pequenos infinitos enquanto duram.
Lembrando de Lia, eu prefiro que certas partidas aconteçam assim: sem sobreposições de valores, sem choro, nem vela, nem nada. Apenas se levantem e saiam. Para que os pequenos infinitos se curvem e transformem-se em memórias inesquecíveis.

Sempre assim. Alguns meses. Um infinito.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

De olhos bem fechados e descobrindo um novo mundo.




Uma trilha ecológica, próxima à Lagoa do Jiqui até a Chácara Renascer, foi cenário do encontro entre alguns deficientes visuais do IERC-RN e estudantes universitários de jornalismo. Durante o passeio, a conversa sobre o Instituto aconteceu de maneira natural, leve e sem pretensões noticiosas, o que agregou muita facilidade e compreensão em relação às informações.

Não é preciso estar de olhos abertos para conhecer certas coisas desse mundo. Esta e diversas outras lições são aprendidas por quem visita o IERC - RN, ou Instituto de Educação e Reabilitação de Cegos do Rio Grande do Norte. Fundado em 16 de julho de 1952 por Dr. Ricardo César Paes Barreto, o IERC hoje abriga 116 alunos - todos cegos ou com algum grau de deficiência visual - em diversas áreas de evolução e educação nesse sentido: estimular a melhoria da qualidade de vida e o desenvolvimento enquanto cidadãos dos estudantes que possuem a tal deficiência.

É claro que não são aulas como quaisquer outras. Por meio de três campos de estudo - Educação Especial, Estimulação Essencial e Programa de Reabilitação - os professores e colaboradores nas mais diversas áreas tocam o trabalho que recebe suporte físico e material de doações do Governo Federal e eventuais parcerias com os Governos Municipal e Estadual.


No Programa de Reabilitação, por exemplo, são desenvolvidas atividades como: Atividades da vida diária (escovar os dentes sozinho, fazer refeições, tomar banho e realizar tarefas domésticas em geral) ; Orientação, mobilidade e locomoção (desenvolver a independência do educando da melhor maneira possível), Música, Educação física, Oficina pedagógica (reabilitar o educando no processo de aprendizado), Psicomotricidade (desenvolver a harmonia dos limites físicos de cada educando), Teatro e Informática.

Ao contrário do que se pode imaginar, o ambiente é pra lá de alegre e feliz. Todos parecem estar muito satisfeitos com o cotidiano do Instituto e trocam experiências de igual para igual. Os corredores e salas, todos simples porém muito bem organizados, estão sempre ocupados por algum aluno acompanhado de um profissional ou até mesmo sozinho, provando efetivamente que as atividades ali desenvolvidas têm resultado: o de capacitar o deficiente visual para o máximo grau da independência.

"Eu mudei completamente de vida quando passei a frequentar o Instituto. Saí de lá há 8 anos, mas trago todo o aprendizado e uso em todos os dias de minha vida. Foi fundamental para tudo. Desde a maneira que eu vejo as coisas, no sentido amplo da palavra 'ver', até os meus afazeres, reconhecer o meu corpo e ambientes. É uma transformação geral. Uma oportunidade que todos os cegos deveriam ter", declara Severa Bastos dos Santos, ex aluna do IERC e atualmente funcionária da Receita Federal.

Além do Programa da Reabilitação, o Instituto desenvolve a Educação Especial e a Estimulação Essencial. Na Estimulação Essencial, o educando de 0 a 5 anos recebe auxílio no desenvolvimento de suas habilidades psicomotoras, afetivas e sociais, afim de prepará-lo para as demais etapas do desenvolvimento. Na Educação Especial, a criança entra no processo de alfabetização e prossegue avançando nos conteúdos padrões das séries regulares do ensino fundamental (até o 5º ano) por meio de técnicas especiais e com recursos específicos para assimilação dos temas e disciplinas.

Paralelo ao trabalho pedagógico, há o amparo constante de uma equipe formada por assistentes sociais, psicólogos e médicos oftalmologistas, sempre disponíveis para eventuais necessidades das crianças.

É importante lembrar que o IERC lança os seus educandos já formados no mercado de trabalho. Há ex alunos artesãos, professores de braile, professores de teclado, especialistas em Dosvox (programa de informática especial para cegos) e até mesmo músicos. Basta entrar em contato com o IERC e receber as informações detalhadas de cada profissional.

O IERC também possui uma página na internet. Acesse http://www.ufrnet.br/cegosrn/ e conheça mais do trabalho.

A conta para doações ao IERC é Banco do Brasil
Ag. Oo22-1
Conta 3.740-0
Para crédito do Instituto de cegos-RN

É um trabalho muito sério, com resultados e sem fins lucrativos.