sábado, 30 de maio de 2009

Breathless

Gente, eu AMO o Emílio Fraia e a Vanessa Bárbara.


"Acho que é dessas coisas idiotas que a gente mais se lembra -o que é muito triste, porque seria mil vezes melhor recordar o rosto de alguém importante, ou uma viagem perfeita. Mas não: a gente lembra de um certo dia em que comeu um pudim e depois assistiu tevê, ou do dia em que foi andar de bicicleta na rua e não aconteceu absolutamente nada de especial. Todo mundo se lembra de como, num dia muito claro, puxou a bicicleta pra cima dos degraus, direitinho, e sentiu no rosto aquele sol absurdo."

O blog do Emílio é o http://emiliofraia.blogspot.com/ e o da Vanessa http://www.hortifruti.org/

Conheci o Emílio na Flip do ano passado e desde sempre me impressionou a capacidade siamesa dele e da Vanessa de produzir narrativas tão fortes e arrebatadoras. Lembro que quando ele terminou a leitura - numa mesa onde estavam também o Michel Laub, a própria Vanessa e mais outros que eu não lembro; todos mediados pelo João Moreira Salles - eu fiquei tão passado que fiquei sufocado, tive que abrir uns dois botões da camisa e segurar na mão da Lulu, que ficou assustadíssima com a minha situação. Mas eu acho que literatura é isso, né, gente. Ou deixa a gente quase doente de tanto prazer ou repousa lá na estante e fica comendo poeira pelo resto da vida.

O primeiro romance da dupla chama "O verão do Chibo"

Já é 2009?

Quando eu tinha mais ou menos 16 anos e fui indagado sobre o que eu iria fazer no ano seguinte - vestibular - comecei a me deparar com esses questionamentos que a gente acha que vão ter fim no momento da decisão mas que na verdade nunca terminam. Nunca terminam mesmo. Com 17 anos fiz a tal prova e entrei de cara na universidade, o que me pareceu meio maluco, o esforço de anos resolvido ali, em 4 dias de prova e de maneira, vá lá, até fácil. O engraçado é que eu me sentia realmente atraído pelo curso de comunicação social e sempre sonhei em tocar campanhas publicitárias incríveis e cheias de inspiração. Criava coisas na minha cabeça e projetava um futuro cheio de coisas legais, reconhecimento etc.

Quando fiz 18 anos logo me desesperei pra conseguir o meu primeiro emprego. A idéia de ter a minha própria grana e poder fazer o que eu quisesse com ela era realmente um tesão e eu topei o que apareceu: virei operador de telecobrança de uma cadeia de fast fashion nacional. Parece meio esquisito, e era, mas também muito, muito divertido. Eu ligava pro Brasil inteiro e sempre usando a mesma frase "Oi, bom dia, fulano está?". "Fulano, sua fatura encontra-se em aberto há tantos dias", hahaha, era triste cobrar o povo, mas eu posso dizer que eu aprendi muito, muito mesmo. Acho que eu fui demitido após 6 meses porque eu era muito fofo com os devedores, realmente entendia as situações e quem cobra tem que ser do mal, né? Eu não era e fui pra rua.

Virei voluntário de um centro cultural, desisti do curso, entrei no cursinho, desisti do cursinho, voltei pra faculdade e arrumei meu primeiro estágio numa agência de publicidade muito, muito legal, chamada House. De lá virei estagiário daquele centro cultural do passado - a www.casadaribeira.com.br- e foi bem bacana, apesar da escolha de ter saído de lá ter sido minha. Sinto saudades, quero muito que a Casa cresça cada vez mais.

Desde janeiro de 2008 a KKI me encontrou, ou eu encontrei a KKI, não sei mesmo. Só sei que tenho aprendido principalmente a lidar com diferenças. É engraçado como a gente tem que entender que os processos criativos das pessoas funcionam em ritmos diferentes e mesmo assim elas nos ensinam muito. Na KKI eu aprendo muito sobre companheirismo, respeito e amizade, valores impregnados naquelas paredes e que têm me contagiado cada vez mais. Vejo que com o tempo eu tenho ficado cada vez mais simples, sem arroubos estéticos ou firulas que embaçam o entendimento do que eu realmente sou. Acho que funciona assim mesmo: a gente é uma pedra cheeeia de informações e a vida vai nos tornando algo lapidado e, portanto, mais simples de se enxergar, porém com mais facetas e maior brilho. Os meus textos, por exemplo, estão mais pobres, hahahaha.

As coisas são e sempre foram assim pra mim. Sempre fui tocado por uma voz que sopra de dentro do meu peito e me diz pra onde e quando devo ir. Confio muito nesse troço que chamam de intuição. Nenhuma, nenhuma mesmo, das decisões importantes que tomei até hoje foram fundamentadas em cálculos matemáticos ou coisas sisudas desse tipo. Meu referencial sempre foi o subjetivo, o encantado, o mágico. Espero não perder essa coisa que me impulsiona e me faz ser bem compreendido por todos que cruzam meu caminho. Devo ter magoado e decepcionado muita gente, porém prefiro lembrar dos que eu levei um tanto de alegria e de coisas boas. Sou feliz de estar fazendo o que faço hoje e fico animado em perceber que falta pouco para a formatura e que tantos outros sonhos estão por vir. Hoje, eu me sinto igual aquele garoto de 16 anos indagado a respeito do que fazer daqui a um tempo. É, novamente eu não sei, caros. Não sei. Só vejo que o mundo está cheio de possibilidades e a vida é muito, muito boa. Basta saber tirar os pés do chão no momento certo e voltar para a estrada quando a razão nos solicita.

Ah, não posso esquecer de uma coisa. Quero registar neste blog mequetrefe a minha gratidão por algumas figuras importantes demais que cruzaram meu caminho durante todo esse tempo:

Ana Paula Medeiros
Gustavo Wanderley
Anderson Leão
Soraya Guimarães
Henrique Fontes
Jeane Ataíde
Túlio Dantas
Clarissa Medeiros

Special Thank's!

quarta-feira, 27 de maio de 2009

É só pra pagar as contas, gente.

Acadêmicos ou não, não dá mais pra assistir calado alguns acontecimentos muito evidentes nos muros da UFRN. Falo UFRN pois é a minha realidade, porém não estão excluídas as demais comunidades Brasil ou mundo afora. Imaginem dois blocos. Um formado por aqueles que frequentam, sim, os bancos da universidade e também precisam - ou querem, ou precisam e querem - tocar a vida em estágios, trabalhos, whatever, wherever. O outro bloco é formado por aqueles (por favor, por favor mesmo, me perdoem, mas eu vou ter que falar e juro que não é nada pessoal) assíduos aos bancos universitários, projetos de pesquisa e extensão, geralmente oriundos de habilitações do curso de comunicação social que não possuem lá grande espaço no mercado de trabalho efetivo.

Sim, colegas, são vocês mesmos. Não quero generalizar. Há colegas da minha habilitação (jornalismo) que também optam pelo segundo bloco, o que não quer dizer nada, na verdade, e tudo pode não passar de uma sandice de uma mente mequetrefe como a minha. Mas verdade seja dita: os moradores do segundo bloco não-arredam-o-pé da faculdade e passam boa parte do tempo metendo o pau em nós que estamos na rua fazendo algo de real e palpável.

Peraê. Quer dizer então que só significa o que é prático? Não, não é isso. Inclusive o prático precisa beber daqueles que só pesquisam para se fundamentar e encontrar novos caminhos, renovações enfim. Estudamos esse paradigma num certo momento que eu já esqueci, mas ficaram as lições e os norteamentos necessários para respeitar os meus amigos pensantes.
Admiro a pesquisa e a construção experimental. Aliás, ela independe da minha admiração, está aí e pronto.

Um recente episódio me fez pensar ainda mais nessas questões todas. O uso da câmera analógica durante os trabalhos práticos da disciplina de fotojornalismo. Eu também entendo a importância do analógico, da compreensão fomentada pelo modelo e até mesmo da beleza estética das fotos provenientes de máquinas desse tipo. Mas calma, né. Partindo desse princípio deveríamos usar da datilografia nas cadeiras de planejamento editorial para entendermos como o ser humano chegou até o teclado de um computador comum e depois, vá lá, ao touch screen. Oi?

Solução? Praticar é maravilhoso, estudar é maravilhoso. Agora, se por algum outro motivo além da sua motivação pessoal você está empacado nos muros da universidade, faz um favor a todos nós que estamos na rua ganhando dinheiro pra pagar nossas contas:

vão ver se estamos na esquina.

Obrigado.

Ron Howard

Ainda meio chocado com a criatividade do Dan Brown. Não, eu nunca li nenhum dos best-sellers, mas vi até então os dois blockbusters baseados em suas obras. Sobre esse último - "Anjos e dimonhos" - vale anotar que o filme é meio esquisito. Consegue prender sua atenção durante mil horas e você nem se situa no cinema, faz o tempo passar rapidinho mesmo. Soluções fáceis, tomadas incríveis (como eles conseguem gravar naquelas locações do inimigo? Eles liberam as igrejas, praças e monumentos djiboua? Ou é tudo chroma key?) De qualquer forma, junta os amigo tudo, compre pencas de fandangos e refrigerante que é diversão na certa! Vale as cutucadas e também vale imaginar, ainda que por 3 horas, o Vaticano comendo merda nas mãos da ciência.


domingo, 17 de maio de 2009

O gelágua que queria ser cafeteira.

Ele reinava absoluto num balcão de aproximadamente 130cm de comprimento por uns 50cm de largura. É, acho que é isso. O seu poder não estava fundamentado em armas, prestígio ou dinheiro. Era simplesmente respeitado por sua estatura e por outro aspecto interessante: era o mais solicitado por todos que ali chegavam. Sim, sim, ele é o mais alto de todos os colegas de balcão. E, pelo menos aqui, tamanho é documento. Aliás, tal poder começa a ser enraizado nas caixas que os trazem até nós. Quanto maior o pacote, mais impressões positivas são geradas, resultando obviamente em sujeitos boquiabertos com tal novidade: um aparelho que faz brotar água gelada. Ali, instantâneo. Basta acoplar um capacete com nome de Galão e tudo tá resolvido. Calor, suor, tristeza, tudo se resolve quando a torneira direita é acionada. Em dias de sol, o que compreende uns 90% do ano onde moramos, ele é top número 1 nas paradas. Inclusive é necessária a troca constante do capacete, que volta e meia chega meio atrasado, deixando o nosso amigo um pouco sem juízo por um tempo - e sem atender prontamente aos que ali chegam.

O Sr. Gelágua é bastante querido e respeitado na vizinhaça, que nem é tão grande assim, é composta de uma pia redonda, um pacote de açúcar, um lixeiro verde, alguns painéis que chamam de "jogo americano" e uma simpática cafeteira. Três dias e pronto. Adquiriram pela vizinhança duas novidades interessantes: filtros, pó de café e mais e mais açúcar. Criado o hábito, a Dona Cafeteira abriu um próspero negócio. Por dia, no início, foram solicitadas 8 xícaras de café fresco. Na segunda semana, já eram contabilizadas em média 15 xícaras por dia. Um sucesso. Não se falava em outra coisa. Era café pra lá, café pra cá e um ou outro copo d'água para aliviar a sede pós cafeína. Ela, que com quase metade a menos da estatura do Sr. Gelágua, desbancara facilmente o seu reinado absoluto e até então ininterrupto.

A tristeza inicial do Sr. Gê foi transformada numa estratégia colossal: reuniu forças de sabe-se-lá-onde e contra-atacou. Não pelo bem geral da freguesia, mas pelo puro e honesto desejo de vingança. E assim o fez. Em vez de produzir flocos de neve frescos e misturá-los à água, passou a cuspir fogo na fonte. Sonhava que, dessa maneira, pudesse quem sabe atrair o interesse do pó de café e a partir de então produzir xícaras em quantidades industriais, visto que a estatura e o capacete seriam ótimos diferenciais na produção em larga escala. Imaginava o dia em que todos perceberiam o seu talento natural para fabricar xícaras de café deliciosas. Não funcionou. A freguesia ficou revoltada, ameaçaram um boicote ao Sr. Cabeça de Galão e aos poucos começaram a procurar uma velha conhecida revestida de um amarelo pastel e com pés de prata. A geladeira vintage, moradora da rua da frente e com capacidade de resfriamento um tanto quanto atrasada. Resolveu, então, que voltaria aos poucos à sua função inicial e acomodaria-se aos novos tempos, tal qual a sua prima VHS assistiu conformada o nascimento de um tal DVD, o que necessariamente não significou o fim da família das fitas. Havia esperança, sempre há.

Sem cartas na manga ou novas chances de sucesso, o nosso amigo em questão refletiu a respeito de toda a situação e deparou-se com algo fatal e um tanto óbvio. Permanecer onde estamos, fazendo aquilo que sabemos e com dedicação total a você - já dizia a sua loja-berçário- é fundamental para que o sucesso seja algo natural e recompensador. Nada de farsas, mentiras ou jogo sujo. À César o que é de César, à cafeteira o que é da cafeteira.

E ao Sr. Gelágua Cabeça de Galão, bem, todo os louros correspondentes ao morador mais alto do balcão.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Humorzinho

Eu e minha melhor amiga descobrimos uma coisa bem engraçada em comum: nós temos pensamentos super maldosos quando estamos no ônibus coletivo. Falo maldosos porque, levando em consideração essas normas todas da paciência e da boa conduta, nós somos dois condenados. Tudo começa quando, num ônibus lotado na parte da frente, ninguém raciocina e toma a iniciativa de ir lá pro fundo. Então, gente, é muito natural que coisas do tipo "bando de idiota" venham até as nossas cabecinhas. Ou aquele casal sem noção que insiste em achar um chupão a coisa mais normal e pública possível. Olha só, não me interessa a cor das suas línguas. Há lugares e lugares pra fazer essas coisas, povo.
Dado o recado?

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Valendo!

Sim, sim, a gente voltou. De um jeito mais leve, despretensioso, cada vez mais com menos platéia e mais e mais paciência. É que nesse meio tempo apareceu o Twitter, outros blogs que invetamos de tomar conta entre outras coisas conhecidas como etc. Tudo isso toma tempo, gente. Toma mesmo.
Entonces, por agora, fica beijo, abraço e os links.

linda.myosotis.com.br

blog.kki.ppg.br

flickr.com/marcelmacedo

twitter.com/marcelmacedo - follow me?

Um par

O avô da minha melhor amiga (sabe que esse negócio de melhor amigo acabou por aqui na terra média) usa um par de tênis chamado Conga. Você deve lembrar dele (do par) se a sua escola exigiu em algum tempo um uniforme esquisito e que você odiava - porém sua mãe adorava. Pois é, ele usa. Foi em um churrasco: sábado, fumaça coisa e tal, onde eu descobri este fato admirável. Ele: médico, sisudo, engraçado e malemolente, é dono de um passaporte para disputas de 4 ou 5 espaços na quadra do pátio, chulé, coisa assim. A esposa, uma senhora de cabelos de fogo, acompanha todos os passos de todos os filhos, netos, marido, visitas. Não fique com copo ou prato vazios. Ela é implacável no abastecimento. Pensando nisso, e mais umas coisas, eu percebi os porquês de tanto amor por minha amiga: ter avós assim é uma coisa que não tem preço e invariavelmente confortará você numa madrugada escura.
É por isso que eu uso um adidas amarelo sem constrangimento. Para conhecer os homens, olhe para os seus calçados.

Abraços e pedaços

Eu estive pensando nos últimos dias em como a minha história é diretamente responsável por quem sou hoje. Meus avós moram em uma cidade chamada Ipanguaçu, no interior do estado e especificamente na região conhecida como Vale do Açu. Assim mesmo com cedilha, apesar de vááárias vezes eu ter lido com ss. Enfim. Lá, durante toda a minha infância (e isso quer dizer até os 12 anos mais ou menos), eu passei as férias de julho e as de verão também. O que importa é que durante todo esse tempo eu era completamente vidrado no meu avô. Não entendia o porquê, se é que ele existe, mas eu não conseguia largar do pé do velho. Íamos sempre juntos à feira livre da cidade que acontece no mercado municipal (já até postei sobre isso aqui) e eu tinha um hábito meio maluco: sair correndo ao encontro dele sempre que o avistava se aproximando de casa. Bastava alguém dizer “Marcel, lá vem teu avô” que pronto. Ia o moleque dooido correndo no meio do jardim para ganhar o abraço mais confortante de todos os tempos, todos os dias. Algumas vezes eu estava dormindo e levava falta, sempre sendo lembrado pela cobrança "Cadê você que não foi me receber?". Era incrível.
O motivo desse post e de todas essas memórias é um só: eu percebi claramente que hoje, depois de alguns anos passados desde o último abraço, eu sou completamente formado por esse legado de amor que ele e algumas pessoas me deram. Eu não seria alguém que sorri pra um cobrador de ônibus e deseja bom dia pro vizinho se, um dia, não tivesse corrido atrás de alguém que realmente estava disposto a me abraçar. E mais que isso, eu percebo que boa parte dos males desse mundo está relacionada à ausência de generosidade, de boa vontade. Mulheres violentadas em porões, crianças caindo das janelas, intolerância de qualquer tipo. É difícil ser feliz quando tanta coisa acontece de ruim e a vida se manifesta de um jeito cruel. Ver um cachorro atropelado na rua, por exemplo, é um tipo de culpa que não dá pra comprar, porém não podemos nos ver livres dela. Há uma seqüência de acontecimentos ruins que fazem parte da vida, são característicos de qualquer cotidiano e assim mesmo funciona. O nosso dever, e aí entra a minha recente reflexão, é tentar extrair das nossas trajetórias algo de motivador e bonito. Claro que é possível. Não a felicidade plástica, romantizada e por isso efêmera, mas a alegria real, conformada, pacífica e paciente com o mundo.
Hoje, com 21 anos, eu não vejo um herói naquele senhor. Vejo um ser humano cheio de erros, feito de carne, osso, amor, decepção e vitória. Sem julgamentos, sem desapontamentos, ele tornou-se deliciosamente humano e mortal.
Depois, se ele puder saber de tudo isso, eu quero que o mais importante esteja registrado:
Vô, em qualquer lugar do mundo, eu sou uma pessoa melhor graças a um pedacinho do seu abraço. Graças a um pedacinho de você.