Lembro do dia que Lia, minha cadelinha, foi embora daqui. As pessoas e coisas vão embora muito rápido. E não quer dizer que elas tenham dito adeus, deixado bilhetes ou assumido compromissos com a partida. Elas simplesmente vão. Como aquele cidadão que desaparece nos corredores do metrô, na multidão, na curva da esquina do supermercado. Elas se levantam, caminham e desaparecem. Foi assim com aquele cãozinho de sua infância. Ele desapareceu. Foi assim com aquele colega que mudou de escola de repente. Foi assim com aquele meio irmão que escafedeu-se junto com a separação de seus pais. Será assim. Sempre. É que as pessoas são do mundo. Elas tem um par de pernas - ou de asas - e uma mente fresca e desperta justamente para tal atividade: partir. E quando nos perguntamos sobre saudade, ah, a saudade sempre existiu, sempre existe, sempre existirá. Em qualquer dos estágios dos encontros. Saudade daquilo que não veio, daquilo que está por vir, daquilo que já foi. No fundo, o saldo é positivo. As pessoas que são felizes do nosso lado, devem ser felizes enquanto quiserem e enquanto ali lhes parecer confortável. Hoje, enquanto eu me concentro pra decifrar sabores de creme dental e identificar o melhor canto junto aos lençóis; lembrei de tudo isso que já me veio e que desapareceu. E não fiquei triste. Surpreendentemente. Eu aprendi que eu preciso ser confortável para aqueles ou aquilo que se propuser a ficar um tempo sob o meu olhar. E aproveitar esses pequenos infinitos enquanto duram.
Lembrando de Lia, eu prefiro que certas partidas aconteçam assim: sem sobreposições de valores, sem choro, nem vela, nem nada. Apenas se levantem e saiam. Para que os pequenos infinitos se curvem e transformem-se em memórias inesquecíveis.
Sempre assim. Alguns meses. Um infinito.
Lembrando de Lia, eu prefiro que certas partidas aconteçam assim: sem sobreposições de valores, sem choro, nem vela, nem nada. Apenas se levantem e saiam. Para que os pequenos infinitos se curvem e transformem-se em memórias inesquecíveis.
Sempre assim. Alguns meses. Um infinito.