terça-feira, 22 de dezembro de 2009

As pessoas têm pressa

Lembro do dia que Lia, minha cadelinha, foi embora daqui. As pessoas e coisas vão embora muito rápido. E não quer dizer que elas tenham dito adeus, deixado bilhetes ou assumido compromissos com a partida. Elas simplesmente vão. Como aquele cidadão que desaparece nos corredores do metrô, na multidão, na curva da esquina do supermercado. Elas se levantam, caminham e desaparecem. Foi assim com aquele cãozinho de sua infância. Ele desapareceu. Foi assim com aquele colega que mudou de escola de repente. Foi assim com aquele meio irmão que escafedeu-se junto com a separação de seus pais. Será assim. Sempre. É que as pessoas são do mundo. Elas tem um par de pernas - ou de asas - e uma mente fresca e desperta justamente para tal atividade: partir. E quando nos perguntamos sobre saudade, ah, a saudade sempre existiu, sempre existe, sempre existirá. Em qualquer dos estágios dos encontros. Saudade daquilo que não veio, daquilo que está por vir, daquilo que já foi. No fundo, o saldo é positivo. As pessoas que são felizes do nosso lado, devem ser felizes enquanto quiserem e enquanto ali lhes parecer confortável. Hoje, enquanto eu me concentro pra decifrar sabores de creme dental e identificar o melhor canto junto aos lençóis; lembrei de tudo isso que já me veio e que desapareceu. E não fiquei triste. Surpreendentemente. Eu aprendi que eu preciso ser confortável para aqueles ou aquilo que se propuser a ficar um tempo sob o meu olhar. E aproveitar esses pequenos infinitos enquanto duram.
Lembrando de Lia, eu prefiro que certas partidas aconteçam assim: sem sobreposições de valores, sem choro, nem vela, nem nada. Apenas se levantem e saiam. Para que os pequenos infinitos se curvem e transformem-se em memórias inesquecíveis.

Sempre assim. Alguns meses. Um infinito.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

De olhos bem fechados e descobrindo um novo mundo.




Uma trilha ecológica, próxima à Lagoa do Jiqui até a Chácara Renascer, foi cenário do encontro entre alguns deficientes visuais do IERC-RN e estudantes universitários de jornalismo. Durante o passeio, a conversa sobre o Instituto aconteceu de maneira natural, leve e sem pretensões noticiosas, o que agregou muita facilidade e compreensão em relação às informações.

Não é preciso estar de olhos abertos para conhecer certas coisas desse mundo. Esta e diversas outras lições são aprendidas por quem visita o IERC - RN, ou Instituto de Educação e Reabilitação de Cegos do Rio Grande do Norte. Fundado em 16 de julho de 1952 por Dr. Ricardo César Paes Barreto, o IERC hoje abriga 116 alunos - todos cegos ou com algum grau de deficiência visual - em diversas áreas de evolução e educação nesse sentido: estimular a melhoria da qualidade de vida e o desenvolvimento enquanto cidadãos dos estudantes que possuem a tal deficiência.

É claro que não são aulas como quaisquer outras. Por meio de três campos de estudo - Educação Especial, Estimulação Essencial e Programa de Reabilitação - os professores e colaboradores nas mais diversas áreas tocam o trabalho que recebe suporte físico e material de doações do Governo Federal e eventuais parcerias com os Governos Municipal e Estadual.


No Programa de Reabilitação, por exemplo, são desenvolvidas atividades como: Atividades da vida diária (escovar os dentes sozinho, fazer refeições, tomar banho e realizar tarefas domésticas em geral) ; Orientação, mobilidade e locomoção (desenvolver a independência do educando da melhor maneira possível), Música, Educação física, Oficina pedagógica (reabilitar o educando no processo de aprendizado), Psicomotricidade (desenvolver a harmonia dos limites físicos de cada educando), Teatro e Informática.

Ao contrário do que se pode imaginar, o ambiente é pra lá de alegre e feliz. Todos parecem estar muito satisfeitos com o cotidiano do Instituto e trocam experiências de igual para igual. Os corredores e salas, todos simples porém muito bem organizados, estão sempre ocupados por algum aluno acompanhado de um profissional ou até mesmo sozinho, provando efetivamente que as atividades ali desenvolvidas têm resultado: o de capacitar o deficiente visual para o máximo grau da independência.

"Eu mudei completamente de vida quando passei a frequentar o Instituto. Saí de lá há 8 anos, mas trago todo o aprendizado e uso em todos os dias de minha vida. Foi fundamental para tudo. Desde a maneira que eu vejo as coisas, no sentido amplo da palavra 'ver', até os meus afazeres, reconhecer o meu corpo e ambientes. É uma transformação geral. Uma oportunidade que todos os cegos deveriam ter", declara Severa Bastos dos Santos, ex aluna do IERC e atualmente funcionária da Receita Federal.

Além do Programa da Reabilitação, o Instituto desenvolve a Educação Especial e a Estimulação Essencial. Na Estimulação Essencial, o educando de 0 a 5 anos recebe auxílio no desenvolvimento de suas habilidades psicomotoras, afetivas e sociais, afim de prepará-lo para as demais etapas do desenvolvimento. Na Educação Especial, a criança entra no processo de alfabetização e prossegue avançando nos conteúdos padrões das séries regulares do ensino fundamental (até o 5º ano) por meio de técnicas especiais e com recursos específicos para assimilação dos temas e disciplinas.

Paralelo ao trabalho pedagógico, há o amparo constante de uma equipe formada por assistentes sociais, psicólogos e médicos oftalmologistas, sempre disponíveis para eventuais necessidades das crianças.

É importante lembrar que o IERC lança os seus educandos já formados no mercado de trabalho. Há ex alunos artesãos, professores de braile, professores de teclado, especialistas em Dosvox (programa de informática especial para cegos) e até mesmo músicos. Basta entrar em contato com o IERC e receber as informações detalhadas de cada profissional.

O IERC também possui uma página na internet. Acesse http://www.ufrnet.br/cegosrn/ e conheça mais do trabalho.

A conta para doações ao IERC é Banco do Brasil
Ag. Oo22-1
Conta 3.740-0
Para crédito do Instituto de cegos-RN

É um trabalho muito sério, com resultados e sem fins lucrativos.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Inspirador




Eu não entendo muita coisa de fotografia. Nem de moda. Nem de fotografia de moda ou para a moda, mas trabalho (um pouco) com isso de vez em quando e preciso captar certos momentos e inspirações para que os trabalhos saiam, pelo menos, harmoniosos. Ryan McGinley faz fotografia da maneira ideal para comunicar moda. Não tô falando de roupas muito bem estruturadas ou de closes e quadros bem apanhados e definidos, com destaque para a estrutura dos tecidos, detalhes etc. A fotografia de Ryan - amplamente e recentemente reconhecida por publicações como The New York Times, "W", "i-D", "Vogue" Paris, Nike, Converse, Puma, Wrangler (pela qual ganhou prêmio em Cannes), Stella McCartney e Balenciaga - mergulha e abusa do mais natural ser humano que pensa, consome e faz moda. O ser humano natural, flagrado nas movimentações íntimas, cotidianas etc. Não vou arriscar os porquês da onda, passando eles pelas questões contrárias aos editoriais entregues ao photoshop ou não, apenas destaco a maneira com que esse talentoso filho do Lower East Side nova-iorquino conduz o seu estilo e suas vontades - e faz sucesso. Certo que nos dias de hoje muito se fala do quanto que as versões surreais (vide Madonna para Louis Vuitton) são o contraponto e a ironia a respeito dos abusos nos retoques digitais nas campanhas; Ryan surge exatamente para pôr vida, sangue e, por que não, conceito e lifestyle em nichos tão vazios como alguns no mundo da moda.


Além disso, muito além disso, ele é um excelente fotógrafo. Apenas isso ou tudo isso.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

O virtual que é real



Um mash up de ideias e plataformas que misturam minha vida entre o real e o virtual. Não que o virtual não seja exatamente real, não é?! Mas é que nessa divisão ou aglutinação maluca em que vivemos, nada mais natural do que confundir os conceitos e fazer dos perfis sociais, por exemplo, o nosso espelho - ainda que porcoshopado, prática que eu odeio. Falo disso porque de um tempo pra cá tenho cada vez mais passado o dia quase inteiro conectado e olha, isso não tem sido ruim. Pelo contrário. Perceber que essa mistura é positiva e pende para o lado da vida real é uma surpresa.

Quanto mais eu falo, digito, converso e conheço via web, mais a minha vida 'de verdade' aqui fora torna-se mais movimentada. Só no trabalho, gerenciamos o conteúdo de 3 websites diretamente. Entre blogs e outros mais tranquilos, que bebem menos frequentemente de atualizações. Para isso, são contabilizadas por dia aproximadamente 200 (duzentas, gente) atualizações no twitter - entre perfis que sigo e os meus próprios updates em uma avalanche de links e pensamentos que chegam a cada minuto, refrescando o meu navegador cerebral com conteúdo bacana. Santo Twitter. Filtramos aqueles que nos interessam, que sabemos que irão nos completar com informação pertinente para todos os momentos, inclusive os cômicos, de maneira rápida e sem encheção de saco. Tô dizendo por aí que o Twitter é a assessoria de imprensa de um futuro próximo. Já é, né.

Especialmente nos últimos dois dias tenho acompanhado a cobertura quase que integral - se assim estivesse eu disposto e disponível - da Flip 2009. O twitter da Feira é atualizado feito metralhadora com links das mesas de leitura, debates e postagens no blog flip. Além, é claro, do fantástico e maravilhoso link ao vivo em parceria com o portal G1, onde eu me jogo com força nas leituras, conheço e revejo autores queridos e passo o meu tempo. Tudo assim. Multiplataformal. Incrível.

Falo disso para ilustrar um pouco da sensação que tenho ao observar as ferramentas no nosso trabalho diário com comunicação. Projetando o universo online como uma plataforma que não é tão pretensiosa quanto pintam, mas tão ou mais poderosa do que imaginam, vejo claramente recursos que me ajudam, me ensinam e me emocionam. A sensação cresce sobretudo nesses tempos de queda de diploma, fato pessoalmente representativo, uma vez que estou com um dos pés na porta da formatura e me pergunto 'Justo agora?'. Porém isso é outra questão, também comentada no twitter, vejam só!

Además, sentar e observar essas misturas entre o online e o offline, o fulltime e o ausente, o real e o imaginário, sonho e suor, é tão mágico quanto viver tudo isso dentro de uma vida só. Largando os medos, peneirando algumas bobagens e aceitando aquilo que nos é útil e nos faz crescer. Pois só assim, assumindo o virtual como espelho do real, podemos potencializar nossas forças e vontades afim de um mundo mais conectado, mais humano e mais diferentemente igual.

domingo, 28 de junho de 2009

O terceiro santo



Hoje foi domingo com direito a final da copa das confederações e fim do dia aquecido pelas fogueiras oferecidas ao São Pedro. Posso dizer que, nesse meio tempo com direito a três gols do Brasil ( de virada); o sol, a presença dos meus pais e a minha ideia de fazer um bolo foram as melhores coisas do fim de semana - ou começo, avaliando o domingo como dia número 1. Ou ainda, todas essas coisas foram juntas a melhor coisa acontecida nos últimos meses.
É só deixar rolar, gente. Gols, sol, bolo no forno, fogueiras e chuva. Todos necessários e imprevisivelmente deliciosos.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Inteiros




O filme do Jean Charles, vivido por Selton Melo, é realmente maravilhoso. Vou deixar de lado todas as questões que competem aos profissionais gabaritados analisar e vou chamar a atenção para um lado nem tão evidente mas que, para mim, foi muito pertinente na maneira "não pesada" com que o filme foi dirigido. As diferenças e sobretudo as semelhanças que unem e separam os brasileiros do resto do mundo. É mesmo impressionante o quanto que o nosso olhar úmido, nosso calor, nossa proximidade e por que não, nossa displicência, por vezes desleixo, em acreditar tanto e tão pouco na vida, nos colocam numa posição privilegiada. Nos motivamos, sonhamos com corpo e alma, nos envolvemos, ou também não é nada disso, tudo são generalizações e encontrar um ponto médio em algo tão plural como o brasileiro é uma tarefa injusta. Mas é que ali, naquele furacão cinza, frio e sisudo da atmosfera londrina, não se respira outra coisa além de distância. Distância do país de origem, distância entre as zonas centrais e periféricas, distância dos abraços, distância entre as pessoas que estão ali, bem perto. A ignorância, a falta de informação ou sei lá, o trajeto natural das coisas desenrolam o fim de um sonho de maneira tão brutal e injusta que fica difícil de acreditar no que aconteceu de verdade naquele metrô.
O que ficou, ficou de maneira positiva e reanimadora, talvez tenha sido a naturalidade com que também a vida se reinventa, recomeça e transforma tristezas e tragédias em algo bom, proveitoso e necessário. Levantar o nosso nariz brasileiro e nossa alma latina nos faz perceber que, dentro de contextos como aquele, a nossa humanidade e nossa entrega absoluta é realmente a melhor maneira de viver as coisas e de nos diferenciarmos dos indiferentes. Cafonas? Românticos? Fanfarrões? Sim, podemos ser. Mas somos de verdade. Sonhadores, amigos, felizes, inteiros. Largos nos gestos, generosos na oportunidade e na força, poxa vida, honestos mesmo. O filme fala disso, um tanto quanto em suspensão no ar, porém ali está, de maneira muito orgânica e natural, como deve ser. Percebi que Jean Charles não foi pela metade e não ousou desistir do que queria, se é que existia um objetivo. Para Jean, o caminho já era por demais prazeroso. Tinha o mundo e tinha amigos, bem ali, no sofá da sala. Um apartamento pequeno, uma mala de ferramentas, tudo em alguns poucos metros quadrados. Metros quadrados inteiros. Não pela metade, como uma fatia de pizza dura servida nos quarteirões. Não pela metade, como o salário compartilhado no fim de cada mês com a família no Brasil. Não pela metade, como uma polícia chamada Scotland Yard.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Santo número dois

'As noites de junho, porém, eram minhas de um jeito especial. No cheiro, na frieza do vento, nas cores dos seus enfeites. A fartura das comidas à base de milho verde – canjicas, pamonhas, o próprio milho cozido ou assado - , os pratos enormes espalhados na mesa, a vaidade de mamãe ao explicar seu jeito inimitável de dosar o leite de coco, tudo isso era uma emoção, da qual o estômago e o espírito participavam, cobrindo-nos de orgulho pelo que éramos, unindo-nos num coral de ternura por aquelas mãos quituteiras, afeitas aos mistérios do sal e do açúcar.'

Antônio Maria em 'Véspera de São João'.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Hello, kisses!

Ela é filha da minha chefe mas eu juro que não é por isso que eu acho ela super engraçada. E eu também não preciso justificar, ok?! Ok!
Lila resolveu montar uma barraca do beijo durante a quermesse aqui da agência. E o esquema era o seguinte: beijinho simples R$5,00, beijinho com gloss cor de rosa R$10,00 e beijinho com batom vermelho R$20,00! hahahahaha
Num é fofo? A gente ajudou a montar toda a fachada da barraquinha e dizem que durante a festa ela passava entre as mesas dizendo "barraca do beeeeeeeijo, barraca do beeeeijo".
Fervida é pouco. Dizem também que daqui a alguns anos ela quer ser publicitária. Eu lembro que mais ou menos na idade dela meu sonho era organizar um desfile de carnaval e essas lembranças ainda são super vivas na minha cabeça. Então, partindo desse princípio de beijinhos cor de rosa e escolas de samba, a gente sabe que no fim tudo dá certo mesmo, né, gente? Seja o caminho um 'pouco' diferente ou não, os nossos desejos vão desaguando numa cachoeira de boas intenções.

E a vida vai se colorindo.

domingo, 14 de junho de 2009

Bolo de Santo Antônio

Antes eu ficava muito encucado de tocar pra frente um blog qualquer. Eram vários os motivos que me empacavam. Falta de alguém pra fazer um layout, relevância dos temas ou das opiniões, preguiça, medo, vergonha etc. Daí que todas essas dificuldades de repente passaram por um motivo um tanto curioso: eu passei a escrever em blogs institucionais de empresas, marcas, grupos, enfim! Virou ganha pão! O que eu acho o máximo, visto que eu recebo uns trocos pra escrever sobre coisas que gosto.

Legal também encontrar blogueiros fervidos e super legais como a Jana do agoraquesourica, a Marcelle do coisasdemarcelle ou o pessoal do eles3, espaço da Closeup. Ah, tem também a Erika Palomino, o Marcelo Taz, o Antônio Prata, Emílio Fraia, enfim, vários dos meus ídolos na web são pessoas super acessíveis, simpáticas e talentosas; e não precisam fazer pose pra poder ganhar respeito ou coisa parecida - aliás, quem disse que respeito é o objetivo? hahahaha .

Sigo todo mundo no twitter e o que parecia ser um troço bobo virou ferramenta pra troca esperta de idéias e inspirações rápidas, com 140 caracteres no máximo (inspiração boa é assim, hehehe) !


Parece bobo, mas eu comento muito com meus amigos sobre como é importante perceber que figuras que você admira passaram pelos mesmos perrengues que você, compartilham de mais ou menos o mesmo histórico e são orientados e impulsionados pela mesma força que é a de realizar as coisas com prazer e comprometimento. A gente não quer gritar por revoluções vazias e nem as grandes obras da sociologia ainda estão frescas nas nossas idéias, talvez pelo passar do tempo, talvez pela desistência mesmo. Como disse brilhantemente uma amiga chamada Deyse "Então assim, talvez a gente não possa ajudar, porque esse grupo aqui, especificamente, tem o humor sarcástico como forma de sobrevivência nesse mundo ridículo." É mais ou menos isso, povo. Sabemos do que estamos falando e falamos bem, mas não precisamos fazer uma camiseta dizendo isso. Dizemos só de vez em quando, por aqui, num bloguezinho qualquer que pode ser seguido por algum estudante sedento de inspirações feito eu.

Obs: vamo fazer umas comidinhas de milho?

;)

sábado, 30 de maio de 2009

Breathless

Gente, eu AMO o Emílio Fraia e a Vanessa Bárbara.


"Acho que é dessas coisas idiotas que a gente mais se lembra -o que é muito triste, porque seria mil vezes melhor recordar o rosto de alguém importante, ou uma viagem perfeita. Mas não: a gente lembra de um certo dia em que comeu um pudim e depois assistiu tevê, ou do dia em que foi andar de bicicleta na rua e não aconteceu absolutamente nada de especial. Todo mundo se lembra de como, num dia muito claro, puxou a bicicleta pra cima dos degraus, direitinho, e sentiu no rosto aquele sol absurdo."

O blog do Emílio é o http://emiliofraia.blogspot.com/ e o da Vanessa http://www.hortifruti.org/

Conheci o Emílio na Flip do ano passado e desde sempre me impressionou a capacidade siamesa dele e da Vanessa de produzir narrativas tão fortes e arrebatadoras. Lembro que quando ele terminou a leitura - numa mesa onde estavam também o Michel Laub, a própria Vanessa e mais outros que eu não lembro; todos mediados pelo João Moreira Salles - eu fiquei tão passado que fiquei sufocado, tive que abrir uns dois botões da camisa e segurar na mão da Lulu, que ficou assustadíssima com a minha situação. Mas eu acho que literatura é isso, né, gente. Ou deixa a gente quase doente de tanto prazer ou repousa lá na estante e fica comendo poeira pelo resto da vida.

O primeiro romance da dupla chama "O verão do Chibo"

Já é 2009?

Quando eu tinha mais ou menos 16 anos e fui indagado sobre o que eu iria fazer no ano seguinte - vestibular - comecei a me deparar com esses questionamentos que a gente acha que vão ter fim no momento da decisão mas que na verdade nunca terminam. Nunca terminam mesmo. Com 17 anos fiz a tal prova e entrei de cara na universidade, o que me pareceu meio maluco, o esforço de anos resolvido ali, em 4 dias de prova e de maneira, vá lá, até fácil. O engraçado é que eu me sentia realmente atraído pelo curso de comunicação social e sempre sonhei em tocar campanhas publicitárias incríveis e cheias de inspiração. Criava coisas na minha cabeça e projetava um futuro cheio de coisas legais, reconhecimento etc.

Quando fiz 18 anos logo me desesperei pra conseguir o meu primeiro emprego. A idéia de ter a minha própria grana e poder fazer o que eu quisesse com ela era realmente um tesão e eu topei o que apareceu: virei operador de telecobrança de uma cadeia de fast fashion nacional. Parece meio esquisito, e era, mas também muito, muito divertido. Eu ligava pro Brasil inteiro e sempre usando a mesma frase "Oi, bom dia, fulano está?". "Fulano, sua fatura encontra-se em aberto há tantos dias", hahaha, era triste cobrar o povo, mas eu posso dizer que eu aprendi muito, muito mesmo. Acho que eu fui demitido após 6 meses porque eu era muito fofo com os devedores, realmente entendia as situações e quem cobra tem que ser do mal, né? Eu não era e fui pra rua.

Virei voluntário de um centro cultural, desisti do curso, entrei no cursinho, desisti do cursinho, voltei pra faculdade e arrumei meu primeiro estágio numa agência de publicidade muito, muito legal, chamada House. De lá virei estagiário daquele centro cultural do passado - a www.casadaribeira.com.br- e foi bem bacana, apesar da escolha de ter saído de lá ter sido minha. Sinto saudades, quero muito que a Casa cresça cada vez mais.

Desde janeiro de 2008 a KKI me encontrou, ou eu encontrei a KKI, não sei mesmo. Só sei que tenho aprendido principalmente a lidar com diferenças. É engraçado como a gente tem que entender que os processos criativos das pessoas funcionam em ritmos diferentes e mesmo assim elas nos ensinam muito. Na KKI eu aprendo muito sobre companheirismo, respeito e amizade, valores impregnados naquelas paredes e que têm me contagiado cada vez mais. Vejo que com o tempo eu tenho ficado cada vez mais simples, sem arroubos estéticos ou firulas que embaçam o entendimento do que eu realmente sou. Acho que funciona assim mesmo: a gente é uma pedra cheeeia de informações e a vida vai nos tornando algo lapidado e, portanto, mais simples de se enxergar, porém com mais facetas e maior brilho. Os meus textos, por exemplo, estão mais pobres, hahahaha.

As coisas são e sempre foram assim pra mim. Sempre fui tocado por uma voz que sopra de dentro do meu peito e me diz pra onde e quando devo ir. Confio muito nesse troço que chamam de intuição. Nenhuma, nenhuma mesmo, das decisões importantes que tomei até hoje foram fundamentadas em cálculos matemáticos ou coisas sisudas desse tipo. Meu referencial sempre foi o subjetivo, o encantado, o mágico. Espero não perder essa coisa que me impulsiona e me faz ser bem compreendido por todos que cruzam meu caminho. Devo ter magoado e decepcionado muita gente, porém prefiro lembrar dos que eu levei um tanto de alegria e de coisas boas. Sou feliz de estar fazendo o que faço hoje e fico animado em perceber que falta pouco para a formatura e que tantos outros sonhos estão por vir. Hoje, eu me sinto igual aquele garoto de 16 anos indagado a respeito do que fazer daqui a um tempo. É, novamente eu não sei, caros. Não sei. Só vejo que o mundo está cheio de possibilidades e a vida é muito, muito boa. Basta saber tirar os pés do chão no momento certo e voltar para a estrada quando a razão nos solicita.

Ah, não posso esquecer de uma coisa. Quero registar neste blog mequetrefe a minha gratidão por algumas figuras importantes demais que cruzaram meu caminho durante todo esse tempo:

Ana Paula Medeiros
Gustavo Wanderley
Anderson Leão
Soraya Guimarães
Henrique Fontes
Jeane Ataíde
Túlio Dantas
Clarissa Medeiros

Special Thank's!

quarta-feira, 27 de maio de 2009

É só pra pagar as contas, gente.

Acadêmicos ou não, não dá mais pra assistir calado alguns acontecimentos muito evidentes nos muros da UFRN. Falo UFRN pois é a minha realidade, porém não estão excluídas as demais comunidades Brasil ou mundo afora. Imaginem dois blocos. Um formado por aqueles que frequentam, sim, os bancos da universidade e também precisam - ou querem, ou precisam e querem - tocar a vida em estágios, trabalhos, whatever, wherever. O outro bloco é formado por aqueles (por favor, por favor mesmo, me perdoem, mas eu vou ter que falar e juro que não é nada pessoal) assíduos aos bancos universitários, projetos de pesquisa e extensão, geralmente oriundos de habilitações do curso de comunicação social que não possuem lá grande espaço no mercado de trabalho efetivo.

Sim, colegas, são vocês mesmos. Não quero generalizar. Há colegas da minha habilitação (jornalismo) que também optam pelo segundo bloco, o que não quer dizer nada, na verdade, e tudo pode não passar de uma sandice de uma mente mequetrefe como a minha. Mas verdade seja dita: os moradores do segundo bloco não-arredam-o-pé da faculdade e passam boa parte do tempo metendo o pau em nós que estamos na rua fazendo algo de real e palpável.

Peraê. Quer dizer então que só significa o que é prático? Não, não é isso. Inclusive o prático precisa beber daqueles que só pesquisam para se fundamentar e encontrar novos caminhos, renovações enfim. Estudamos esse paradigma num certo momento que eu já esqueci, mas ficaram as lições e os norteamentos necessários para respeitar os meus amigos pensantes.
Admiro a pesquisa e a construção experimental. Aliás, ela independe da minha admiração, está aí e pronto.

Um recente episódio me fez pensar ainda mais nessas questões todas. O uso da câmera analógica durante os trabalhos práticos da disciplina de fotojornalismo. Eu também entendo a importância do analógico, da compreensão fomentada pelo modelo e até mesmo da beleza estética das fotos provenientes de máquinas desse tipo. Mas calma, né. Partindo desse princípio deveríamos usar da datilografia nas cadeiras de planejamento editorial para entendermos como o ser humano chegou até o teclado de um computador comum e depois, vá lá, ao touch screen. Oi?

Solução? Praticar é maravilhoso, estudar é maravilhoso. Agora, se por algum outro motivo além da sua motivação pessoal você está empacado nos muros da universidade, faz um favor a todos nós que estamos na rua ganhando dinheiro pra pagar nossas contas:

vão ver se estamos na esquina.

Obrigado.

Ron Howard

Ainda meio chocado com a criatividade do Dan Brown. Não, eu nunca li nenhum dos best-sellers, mas vi até então os dois blockbusters baseados em suas obras. Sobre esse último - "Anjos e dimonhos" - vale anotar que o filme é meio esquisito. Consegue prender sua atenção durante mil horas e você nem se situa no cinema, faz o tempo passar rapidinho mesmo. Soluções fáceis, tomadas incríveis (como eles conseguem gravar naquelas locações do inimigo? Eles liberam as igrejas, praças e monumentos djiboua? Ou é tudo chroma key?) De qualquer forma, junta os amigo tudo, compre pencas de fandangos e refrigerante que é diversão na certa! Vale as cutucadas e também vale imaginar, ainda que por 3 horas, o Vaticano comendo merda nas mãos da ciência.


domingo, 17 de maio de 2009

O gelágua que queria ser cafeteira.

Ele reinava absoluto num balcão de aproximadamente 130cm de comprimento por uns 50cm de largura. É, acho que é isso. O seu poder não estava fundamentado em armas, prestígio ou dinheiro. Era simplesmente respeitado por sua estatura e por outro aspecto interessante: era o mais solicitado por todos que ali chegavam. Sim, sim, ele é o mais alto de todos os colegas de balcão. E, pelo menos aqui, tamanho é documento. Aliás, tal poder começa a ser enraizado nas caixas que os trazem até nós. Quanto maior o pacote, mais impressões positivas são geradas, resultando obviamente em sujeitos boquiabertos com tal novidade: um aparelho que faz brotar água gelada. Ali, instantâneo. Basta acoplar um capacete com nome de Galão e tudo tá resolvido. Calor, suor, tristeza, tudo se resolve quando a torneira direita é acionada. Em dias de sol, o que compreende uns 90% do ano onde moramos, ele é top número 1 nas paradas. Inclusive é necessária a troca constante do capacete, que volta e meia chega meio atrasado, deixando o nosso amigo um pouco sem juízo por um tempo - e sem atender prontamente aos que ali chegam.

O Sr. Gelágua é bastante querido e respeitado na vizinhaça, que nem é tão grande assim, é composta de uma pia redonda, um pacote de açúcar, um lixeiro verde, alguns painéis que chamam de "jogo americano" e uma simpática cafeteira. Três dias e pronto. Adquiriram pela vizinhança duas novidades interessantes: filtros, pó de café e mais e mais açúcar. Criado o hábito, a Dona Cafeteira abriu um próspero negócio. Por dia, no início, foram solicitadas 8 xícaras de café fresco. Na segunda semana, já eram contabilizadas em média 15 xícaras por dia. Um sucesso. Não se falava em outra coisa. Era café pra lá, café pra cá e um ou outro copo d'água para aliviar a sede pós cafeína. Ela, que com quase metade a menos da estatura do Sr. Gelágua, desbancara facilmente o seu reinado absoluto e até então ininterrupto.

A tristeza inicial do Sr. Gê foi transformada numa estratégia colossal: reuniu forças de sabe-se-lá-onde e contra-atacou. Não pelo bem geral da freguesia, mas pelo puro e honesto desejo de vingança. E assim o fez. Em vez de produzir flocos de neve frescos e misturá-los à água, passou a cuspir fogo na fonte. Sonhava que, dessa maneira, pudesse quem sabe atrair o interesse do pó de café e a partir de então produzir xícaras em quantidades industriais, visto que a estatura e o capacete seriam ótimos diferenciais na produção em larga escala. Imaginava o dia em que todos perceberiam o seu talento natural para fabricar xícaras de café deliciosas. Não funcionou. A freguesia ficou revoltada, ameaçaram um boicote ao Sr. Cabeça de Galão e aos poucos começaram a procurar uma velha conhecida revestida de um amarelo pastel e com pés de prata. A geladeira vintage, moradora da rua da frente e com capacidade de resfriamento um tanto quanto atrasada. Resolveu, então, que voltaria aos poucos à sua função inicial e acomodaria-se aos novos tempos, tal qual a sua prima VHS assistiu conformada o nascimento de um tal DVD, o que necessariamente não significou o fim da família das fitas. Havia esperança, sempre há.

Sem cartas na manga ou novas chances de sucesso, o nosso amigo em questão refletiu a respeito de toda a situação e deparou-se com algo fatal e um tanto óbvio. Permanecer onde estamos, fazendo aquilo que sabemos e com dedicação total a você - já dizia a sua loja-berçário- é fundamental para que o sucesso seja algo natural e recompensador. Nada de farsas, mentiras ou jogo sujo. À César o que é de César, à cafeteira o que é da cafeteira.

E ao Sr. Gelágua Cabeça de Galão, bem, todo os louros correspondentes ao morador mais alto do balcão.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Humorzinho

Eu e minha melhor amiga descobrimos uma coisa bem engraçada em comum: nós temos pensamentos super maldosos quando estamos no ônibus coletivo. Falo maldosos porque, levando em consideração essas normas todas da paciência e da boa conduta, nós somos dois condenados. Tudo começa quando, num ônibus lotado na parte da frente, ninguém raciocina e toma a iniciativa de ir lá pro fundo. Então, gente, é muito natural que coisas do tipo "bando de idiota" venham até as nossas cabecinhas. Ou aquele casal sem noção que insiste em achar um chupão a coisa mais normal e pública possível. Olha só, não me interessa a cor das suas línguas. Há lugares e lugares pra fazer essas coisas, povo.
Dado o recado?

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Valendo!

Sim, sim, a gente voltou. De um jeito mais leve, despretensioso, cada vez mais com menos platéia e mais e mais paciência. É que nesse meio tempo apareceu o Twitter, outros blogs que invetamos de tomar conta entre outras coisas conhecidas como etc. Tudo isso toma tempo, gente. Toma mesmo.
Entonces, por agora, fica beijo, abraço e os links.

linda.myosotis.com.br

blog.kki.ppg.br

flickr.com/marcelmacedo

twitter.com/marcelmacedo - follow me?

Um par

O avô da minha melhor amiga (sabe que esse negócio de melhor amigo acabou por aqui na terra média) usa um par de tênis chamado Conga. Você deve lembrar dele (do par) se a sua escola exigiu em algum tempo um uniforme esquisito e que você odiava - porém sua mãe adorava. Pois é, ele usa. Foi em um churrasco: sábado, fumaça coisa e tal, onde eu descobri este fato admirável. Ele: médico, sisudo, engraçado e malemolente, é dono de um passaporte para disputas de 4 ou 5 espaços na quadra do pátio, chulé, coisa assim. A esposa, uma senhora de cabelos de fogo, acompanha todos os passos de todos os filhos, netos, marido, visitas. Não fique com copo ou prato vazios. Ela é implacável no abastecimento. Pensando nisso, e mais umas coisas, eu percebi os porquês de tanto amor por minha amiga: ter avós assim é uma coisa que não tem preço e invariavelmente confortará você numa madrugada escura.
É por isso que eu uso um adidas amarelo sem constrangimento. Para conhecer os homens, olhe para os seus calçados.

Abraços e pedaços

Eu estive pensando nos últimos dias em como a minha história é diretamente responsável por quem sou hoje. Meus avós moram em uma cidade chamada Ipanguaçu, no interior do estado e especificamente na região conhecida como Vale do Açu. Assim mesmo com cedilha, apesar de vááárias vezes eu ter lido com ss. Enfim. Lá, durante toda a minha infância (e isso quer dizer até os 12 anos mais ou menos), eu passei as férias de julho e as de verão também. O que importa é que durante todo esse tempo eu era completamente vidrado no meu avô. Não entendia o porquê, se é que ele existe, mas eu não conseguia largar do pé do velho. Íamos sempre juntos à feira livre da cidade que acontece no mercado municipal (já até postei sobre isso aqui) e eu tinha um hábito meio maluco: sair correndo ao encontro dele sempre que o avistava se aproximando de casa. Bastava alguém dizer “Marcel, lá vem teu avô” que pronto. Ia o moleque dooido correndo no meio do jardim para ganhar o abraço mais confortante de todos os tempos, todos os dias. Algumas vezes eu estava dormindo e levava falta, sempre sendo lembrado pela cobrança "Cadê você que não foi me receber?". Era incrível.
O motivo desse post e de todas essas memórias é um só: eu percebi claramente que hoje, depois de alguns anos passados desde o último abraço, eu sou completamente formado por esse legado de amor que ele e algumas pessoas me deram. Eu não seria alguém que sorri pra um cobrador de ônibus e deseja bom dia pro vizinho se, um dia, não tivesse corrido atrás de alguém que realmente estava disposto a me abraçar. E mais que isso, eu percebo que boa parte dos males desse mundo está relacionada à ausência de generosidade, de boa vontade. Mulheres violentadas em porões, crianças caindo das janelas, intolerância de qualquer tipo. É difícil ser feliz quando tanta coisa acontece de ruim e a vida se manifesta de um jeito cruel. Ver um cachorro atropelado na rua, por exemplo, é um tipo de culpa que não dá pra comprar, porém não podemos nos ver livres dela. Há uma seqüência de acontecimentos ruins que fazem parte da vida, são característicos de qualquer cotidiano e assim mesmo funciona. O nosso dever, e aí entra a minha recente reflexão, é tentar extrair das nossas trajetórias algo de motivador e bonito. Claro que é possível. Não a felicidade plástica, romantizada e por isso efêmera, mas a alegria real, conformada, pacífica e paciente com o mundo.
Hoje, com 21 anos, eu não vejo um herói naquele senhor. Vejo um ser humano cheio de erros, feito de carne, osso, amor, decepção e vitória. Sem julgamentos, sem desapontamentos, ele tornou-se deliciosamente humano e mortal.
Depois, se ele puder saber de tudo isso, eu quero que o mais importante esteja registrado:
Vô, em qualquer lugar do mundo, eu sou uma pessoa melhor graças a um pedacinho do seu abraço. Graças a um pedacinho de você.