terça-feira, 3 de agosto de 2010

As três cores de Zied

Que a Itália vive dando pontapés na Sicília todo mundo sabe. A atmosfera italiana tem uma lei da gravidade específica e não é correspondente à sua capacidade de erguer e destruir mafiosos, construir e fraturar impérios como o romano, por exemplo. Equilibrada sobre um belo salto alto, a alegria tem um peso especial dentro do contexto italiano. Grosso modo, são fanfarrões e festivos, o que torna o 'circus' e as arenas lugares comuns na dolce vita napolitana.

Tudo bem, o que a banda branca da bandeira tricolor pode desconhecer é o lado negro da força de seus representantes. Trancada em uma espécie de cativeiro perfeitamente desenhado como um "lar", Rasha, uma italiana de 20 anos, talvez esperasse por um socorro que nunca viria. Ela era refém do próprio marido que vigiava suas atitudes, mal permitia que ela visse a luz do dia e sempre a escoltava em seus passeios externos que raramente aconteciam. Emad Zied , de 31 anos, disse aos jornais, após ser preso, que mantinha a mulher dentro de tal regime por considerá-la "alegre demais" para poder sair por aí distribuindo sorrisos, assim, sem ninguém solicitar. Resgatada por policiais e bombeiros, a jovem ganhou sua liberdade quando as autoridades receberam denúncias que partiram da própria família de Rasha. O egípcio Zied está sendo acusado por suspeita de sequestro.

Choque de culturas onde a poligamia e a monogamia não encontram interseções? É possível. Subserviência feminina em um mundo calejado de ondas anti-feminismos baratos? Pode ser. O que mais assusta é a espécie de justificativa e de argumento utilizado: a campanha contra a alegria. É proibido sorrir, ser feliz ou simplesmente oferecer ao passeio público doses generosas de charme. Hoje, quando é comemorado o dia internacional da mulher, uma notícia desse porte soma às forças femininas e humanas a vontade de democratizar e de ganhar liberdade dentro do que se considera tolerância e respeito. Eu acredito na aflição de todas as mulheres que tomaram conhecimento da situação de Rasha e que se sentiram lesadas pela cegueira de certos comportamentos masculinos. O sentido de posse e de propriedade pode fazer sentido na cultura esmagadoramente mulçumana do país de origem de Zied, de uma maneira contextualizada e condescendente com tal comportamento, certas culturas e situações podem até aprovar a atitude do marido de Rasha. A Itália pelos olhos de Zied não é a mesma Itália que vemos através dos arcos da democracia e da liberdade. Não é a Itália de São Pedro.

No Egito, rainhas da antiguidade têm seu legado de beleza e glamour pontuado por toda a humanidade até hoje. Na Itália, o branco, o vermelho e o verde da bandeira podem não ser vistos por um homem que não consegue ver certas belezas dessa vida. Na Itália de Rasha, homens como Zied não são cegos. São daltônicos.

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